Silêncio Interno: O ruído que nos habita
Dentro da gente mora uma rádio ligado no máximo. E ninguém troca a pilha.
Às vezes, o barulho mais ensurdecedor não está fora. Ele ecoa dentro — em forma de cobranças, vozes antigas, silêncios acumulados.
Essa crônica faz parte da série “Onde Moram as Palavras”
um convite à escuta, à presença e à travessia.
Boa leitura!
Tem gente que tem medo do escuro.
Outros, do silêncio.
Mas tem quem tema o que pode aparecer quando tudo para.
O silêncio virou artigo de luxo — quase um milagre.
Não o silêncio da ausência de som, mas aquele que acontece por dentro quando desligamos as notificações da mente e colocamos o coração em viva voz.
Mas quem é que aguenta isso hoje em dia?
A gente acorda e já tem um feed inteiro de gente vivendo melhor, comendo bonito, acordando cedo e vencendo na vida. A mente nem espreguiçou, mas já comparou, competiu e cansou.
Vivemos numa sociedade que nos educou a performar — não a escutar.
A produzir — não a pausar.
A seguir — nunca a sentar e perguntar:
“Como eu estou de verdade?”
Só que enquanto não escutamos essa pergunta, o corpo responde com insônia, ansiedade, gastrite, tédio crônico. Ele grita o que a gente silencia. Porque tem barulhos que moram na gente como vizinhos incômodos: a crítica constante, a autossabotagem, o medo de errar, o “não sou suficiente” sussurrando como mantra de autodestruição.
E sabe o mais triste?
A gente se acostuma!
Como quem mora perto de uma avenida e já não escuta mais o barulho dos carros. E, nem do próprio coração.
Talvez o primeiro passo pra escutar o outro seja ousar escutar-se.
E isso não é egoísmo — é ALFABETIZAÇÃO EMOCIONAL.
Silenciar, por dentro, é entrar em contato com o caos, os incômodos — e também com a centelha viva que há em você.
É parar de terceirizar nossa paz pra astrologia, para o algoritmo ou pro terapeuta.
É descobrir que a escuta não traz só respostas: ela traz a dor. Mas também traz a nossa verdade.
E uma vez que se escuta essa verdade, não tem como voltar atrás.
Por isso, talvez, a escuta seja tão rara:
Porque ela muda o rumo.
Ela exige coragem.
Ela faz a gente se encontrar — e esse encontro nem sempre é bonito. Mas é necessário.
Silenciar, por dentro, é abrir espaço para existir do tamanho real.
E aí, sim, o outro pode chegar inteiro — sem precisar se espremer na gente.
Com escuta, P.1
Essa é a segunda crônica da série Onde Moram as Palavras, um mergulho lírico e realista na escuta como ponte entre nós e o mundo.
Serão quatro crônicas ao todo, independentes e entrelaçadas. Você pode ler em qualquer ordem, ou seguir o fio desde o início:
➤ Leia a Crônica 1 – “O Vazio entre as Palavras -Você ainda sabe escutar ou só espera sua vez de falar?”
O Vazio entre as Palavras -Você ainda sabe escutar ou só espera sua vez de falar?
Introdução da Série: Onde Moram as Palavras
Que essas palavras sejam abrigo ou abertura.